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UNIVERSO ABICOL | 16 UNIVERSO ABICOL | 17 OS SERES VIVOS QUE HABITAM O SEU COLCHÃO UMA ENTREVISTA COM O D.SC DHYOGO MILÉO TAHER O que são agentes biológicos e qual a relação deles com o colchão? Em se tratando de colchões, agentes biológicos são organismos e microrganismos (e seus produtos) que podem ser encontrados em um colchão. Existem vários agentes biológicos, dentre os quais se destacam as bactérias, fungos, ácaros, vírus e percevejos (bed bugs). Sua relação com os colchões é direta. Nossas camas e roupas de cama e, consequentemente, os colchões, são o habitat desses seres vivos. Existe um miniecossistema no nosso colchão e todos esses agentes biológicos podem ser encontrados lá em grande quantidade, simultaneamente e em relação simbiótica, ou seja, na maioria dos casos eles se beneficiam das presenças de uns dos outros. Por exemplo, quanto maior a quantidade de ácaros, maior a quantidade de fezes de ácaros. Suas fezes servem de alimento para bactérias e fungos, que aumentam sua proliferação. Ácaros se alimentam de fungos e bactérias e ajudam os ácaros a digerir a pele humana morta. Portanto, a proliferação de bactérias e fungos também favorece o aumento da quantidade de ácaros. Os vírus também podem se depositar em colchões, da mesma forma que em qualquer outra superfície, por períodos variáveis de tempo. Por exemplo, especialistas afirmam que o Sars-Cov-2, vírus causador da COVID-19, pode permanecer em um colchão por 2 horas a até 2 dias. Ambientes limpos regularmente impactam de forma positiva na proliferação de agentes biológicos. Porém, não a impedem. A eliminação total desses microrganismos é impossível. Como já dito, nosso organismo é uma fonte constante e infindável de microrganismos. Estamos constantemente em contato com o mundo externo e cada vez que adentramos nosso quarto levamos para lá os organismos que adquirimos na rua, ônibus, trabalho e outros lugares. Mesmo que limpemos o quarto e usemos fronhas e lençóis, por exemplo, ainda assim nosso colchão abrigará uma boa quantidade de agentes biológicos por esses motivos. Estudos científicos apontam que a porosidade dos tecidos das roupas de cama aumentou e isso facilita a passagem dos agentes biológicos para os colchões. São inúmeros os fatores que comprovam que ambientes limpos também estão suscetíveis à contaminação. Há alguma estimativa de quantidade de ácaros, vírus, bactérias e outros que podem estar presentes no colchão em determinado tempo de uso (1, 3, 5 e 10 anos)? Há estudos que relatam que um colchão com menos de 1 ano apresenta 465 mil UFC de bactérias/cm2 de colchão. UFC significa Unidade Formadora de Colônia, ou seja, é a unidade utilizada para medir a quantidade de bactérias e fungos viáveis (vivos e que podem se multiplicar) em uma amostra. Com o objetivo de orientar as pessoas sobre como avaliar as condições do colchão no aspecto de proliferação de ácaros, vírus e bactérias, no final do ano passado a ABICOL solicitou ao Doutor em Ciências, Dhyogo Miléo Taher, relatório técnico e revisão científica da contaminação de colchões por agentes biológicos. O Universo Abicol busca esclarecer as principais questões identificadas no estudo, acompanhe: Como (corre a proliferação de agentes biológicos no colchão? Os colchões usados em ambientes limpos regularmente estão vulneráveis? Os seres humanos são “veículos” desses agentes biológicos. Possuímos uma microflora nativa formada por bactérias e fungos. Para se ter ideia, estudos científicos apontam que emmédia um ser humano é formado por 30 trilhões de células e abriga 39 trilhões de bactérias. Normalmente, a ecologia microbiana da fronha, dos lençóis e dos colchões provém da pele humana, cavidade oral e fezes. Os ácaros são encontrados em nossa pele e podem ser adquiridos em sofás, estofados, poltronas, tapetes e carpetes residenciais ou comerciais. Todos esses microrganismos são transportados aos colchões e lá se instalam, pois afinal, passamos 1/3 de nossas vidas em nossas camas. Nosso suor, fluidos corporais e pele morta também servem de alimento a esses agentes biológicos, favorecendo ainda mais a sua proliferação e tornando o colchão contaminado. E, como já dito, quanto maior a quantidade de bactérias e fungos no colchão, maior a quantidade de ácaros. O mesmo estudo diz que colchões de dois, cinco e sete anos, apresentam aproximadamente 1 milhão e 400 mil UFC de bactérias/cm2 de colchão, 2 milhões e 100 mil UFC de bactérias/cm² de colchão e 2 milhões e 500 mil UFC de bactérias/cm² de colchão, respectivamente. Para efeitos de comparação, o estudo afirma que assentos de vasos sanitários e maçanetas de banheiros possuem 27 UFC e 31 UFC, respectivamente. Outro estudo relata que em colchões com 8 anos de idade foram encontradas bactérias da família Enterobacteriaceae e das espécies E.Coli e Staphylococcus aureus. Esses resultados apontam para contaminação fecal. Ou seja, se alguém for portador de uma doença infecciosa ela pode ser passada para outra pessoa que compartilhe a cama ou a use em outro momento. Também, foram detectados fungos, como Cladosporium na camada superior e Aspergillus e bolores decompositores nas camadas mais profundas dos colchões. Além disso, relatam que um colchão com 8 anos de uso pode apresentar até 4,83 kg de pele morta, a mesma massa de um cãozinho Basset dacshund! Um estudo científico polonês encontrou 40 espécies diferentes de fungos em colchões e outro estudo americano, 47 espécies. Existem estudos que já encontraram 110 espécies diferentes de fungos em colchões domésticos (Bélgica)! Segundo a Universidade de Ohio, nos EUA, um colchão usado pode conter de 100mil a 10milhões de ácaros e 10% da massa de um travesseiro de dois anos pode ser composto de ácaros mortos e seus excrementos. Outras fontes relatamque um colchão com 10 anos de uso pode apresentar 1 trilhão de ácaros e que depois de dois anos, 10% da massa total do colchão seja composta por ácaros.
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