Universo Abicol
16 | UNIVERSO ABICOL Em 1930, quase 100 anos atrás, o poeta modernista brasileiro Manoel Bandeira publicou no seu livro que chamou de Libertinagem, o poema “Pneumotórax”, que se tornou um clássico do modernismo brasileiro. Bandeira, com problemas pulmonares crônicos e sem saída, descreve seu próprio retrato com dose alta de ironia e humor. Senão vejamos: “Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos/A vida inteira que podia ter sido e que não foi. / Tosse, tosse, tosse. /Mandou chamar o médico: — Diga trinta e três. / Trinta e três… trinta e três… trinta e três… — Respire. — O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? — Não. A única coisa a fazer é tocar um TANGO ARGENTIN0”. Analisando o contexto de Bandeira, pode- ríamos questionar: por que o poeta propõe a si mesmo, com dose excessiva de humor SUPER TANGO ARGENTINO chocante, tocar um tango argentino? Ah!... Sim, quando publicou o livro (1.930), o país Argentina era um dos mais ricos da terra (6ª. economia). Sua capital, Buenos Aires, era charmosa, rica, linda, padrões de me- trópole europeia, clima frio temperado, povo bonito e educado, sem analfabetis- mo. O país era dotado de recursos naturais fartos, indústria pujante que fabricava sua própria marca de carro, produzia bons vi- nhos e as melhores carnes do planeta. A capital era uma cidade europeia encrava- da na América Latina. Por isso Buenos Aires, até os anos 60 do século 20, disputava com Paris de igual para igual, a decisão dos nobres das amé- ricas qual o local ideal de gozar suas férias. A decisão, então, quase sempre era pela opção mais chique: BUENOS AIRES, a Cidade do Tango, produto de exportação cultural. Foi ali, então, que nosso poeta se auto prescreveu para curtir o resto da sua vida, de preferência com o glamour devido, apreciando um clássico TANGO ARGENTI- NO, commordomias normais, sem tristeza ou depressão. Afinal, vida que segue. Acredito, seriamente, que se fosse nos dias de hoje, Bandeira não escolheria o Tango Argentino. Eis que o exemplo nos legado do povo argentino em aderir à po- lítica do pão e circo implantados a partir da era PERON, - o pai dos pobres - que sectarizou o país entre o “BEM” (O povão, os trabalhadores) e o “MAL” (os contrários ao regime, exploradores capitalistas, elite colonial), e com isto, transformou o rico país numa grande FESTA, para o povo do BEM, claro: com aumento do salário- -mínimo acima da inflação, crédito farto, crescimento acelerado, nacionalização de multinacionais, obras faraônicas, políti- ARTIGO Moacir Lázaro de Melo
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