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76 um exemplo. Não liga’. Realmente passei a não ligar, embora continue vendo diversas cópias. Minha mulher, milha filha e uma colaboradora disseram que iriam procu- rar um advogado para, em determinados casos, tentar defender alguns modelos”. Qual foi a sua maior fonte de inspiração? “Comecei a criar móveis apaixonado pelos móveis escandinavos, aquele pessoal da pesada de Copenhague. Aliás, os países nórdicos são grandes criadores. Se você pergunta: quem influenciou o meu traba- lho, a resposta é esta, mas eu vim notar isso depois, porque não admitia cópia de jeito nenhum, e quando desenvolvia um trabalho e percebia que havia lá fora algo semelhante, tirava fora. Assim mesmo, uma e outra escapuliu. Fui notar muito tempo depois com algum crítico ou alguma pessoa ligada à mídia”. O senhor se sente realizado? “Sem dúvida nenhuma. Não me interessa ficar rico. Tenho uma vida normal, fiz o que idealizei, não tenho nada, curto imen- samente o que faço, consideração pelo que as pessoas têm pelo meu trabalho. Gosto disso aqui (ser entrevistado), mas não gosto de ser elogiado. A gente percebe perfeitamente às vezes quando o elogio é exagerado. Gosto de fazer palestras, embo- ra não seja professor, nem tenha facilidade de falar – às vezes eu me engasgo. Embora não tenha feito escola de design, procurei me informar sobre o que estava sendo feito no mundo”. O que ainda tem de fazer? “Tenho uma mini marcenaria e conto com três colaboradores. Meu trabalho não teria sido reconhecido se não tivesse esses marceneiros, serralheiros, pessoas que só admitiam meu trabalho. Mas gostaria de ter um mini-laboratório. Tive isso no tempo da Oca, cheguei a ter esse mini-laboratório, e me satisfez muito, muito. Eu criava, fazia o protótipo e depois a peça, estudava e por fim ela era produzida pela fábrica. Sei fazer meu trabalho, mas não sei gerir uma fábri- ca. Na época tinha sócios na parte adminis- trativa, mas infelizmente o pessoal me botou numa situação desagradável, fui obrigado a me desligar. Tivemos prejuízos muito gran- des, mas não me arrependo de nada”. De nada? “Nada, nada. Uma pessoa que eu conside- rava como irmão, que era meu sócio, me fez uma falseta muito grande, e fiquei com muita raiva. Não vi mais a pessoa. Que viva bem, faça as falcatruas dele. Não me afeta mais. No início me atrapalhou, mas felizmente superei as dificuldades”. Sem mágoa? “Sem mágoa”. O que lhe deixa feliz vendo o móvel bra- sileiro? “Eu estimulo diversos designers. Digo: metam a cara. Nas palestras que faço em escolas de arquitetura e de design digo: Vo- cês têm que trabalhar com amor. Quando trabalha com amor, você transmite amor, e assim consegue vitórias”. O móvel brasileiro tem amor? “Tem. Percebo isso. Eles transmitem tal qual uma obra de arte. Você fica emocionado. A parte estética, a fun- BANCO MOCHO, MAIS UM ÍCONE DA AMPLA CRIAÇÃO DE SÉRGIO RODRIGUES fazendo eu faria, não aceito essa coisa de peças grossas que você faz. De jeito nenhum faria pernas de palito em coisas fininhas do jeito que você faz’. Depois, a gente caia na gargalhada”. Tem observado os movimentos regionais com seus clubes de designers? “Sim. Nomes que têm caráter completa- mente diferente, e que admiro porque per- cebe-se criatividade neles. São os Irmãos Campana. Eles não têm o que eu tenho, mas nós nos apreciamos. Eles acreditam imensamente naquilo que fazem e fazem com amor”. Mas o senhor tem consciência de que seu trabalho influenciou o móvel brasileiro? “Influenciou num determinado período. Sou obrigado a reconhecer isso quando fiz a “Oca” em 1955. Foram criados diversos ‘oquinhos’, como o pessoal chamava. Certa vez perguntei ao Lucio Costa – éramos muito amigos: ‘Olha professor, estou um pouco chateado porque tem uns mode- los meus sendo copiados de qualquer maneira, e (eles) estão ficando ricos. Eles têm facilidade maior de comercialização e eu não estou ganhando nada. O que faço’? Ele respondeu: ‘Você deve ter muita satis- fação de saber que o seu móvel está sendo
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