Móveis de Valor - Edição 215
59 moveisdevalor.com.br O legado de umvanguardista EMPRESÁRIO GAÚCHO LOURENÇO CASTELLAN, FALECIDO NO DIA 3 DE ABRIL, CONTRIBUIU PARA A MODERNIZAÇÃO DO SETOR MOVELEIRO COM PRÁTICAS AVANÇADAS DE GESTÃO E DE PRODUÇÃO P ense num garoto de 14 anos de idade que teve uma vassoura como o seu primeiro instrumen- to de trabalho em uma modesta marcenaria de Flores da Cunha, na serra gaúcha. Lá ele teve a chance de aprender o ofício de ferreiro, marceneiro e funileiro. Ficou encantado pela produção de jane- las, portas e o que mais aparecia. Nove anos depois, Lourenço Darcy Castellan decidiu ser empresário, fundou a Móveis Florense e, além de colocar a fábrica em lugar de destaque no cenário nacional, contribuiu para revolucionar o setor moveleiro. Falecido aos 92 anos, estava longe de ser um guru, mas dizia que para chegar ao topo é preciso levantar-se cedo, aprender a fazer as contas de maneira certa e a fazer tudo com qualidade. Aci- ma de tudo, ser apaixonado por aquilo que se faz. De estilo vanguardista, introduziu conceitos de ges- tão, de produção, de controle de qualidade e aten- dimento ao cliente. Foi um dos pioneiros a investir em ações comunitárias, de contribuir com entidades assistências e projetos de natureza cultural e artís- tica. Foi a primeira fábrica de móveis no Brasil a ter certificação ISO 9001 e ISO 14001, assim como precursora de franchising para móveis. Lourenço era um comunicador nato, dono de uma habilidade excepcional para criar relacio- MEMÓRIA namentos. Na fase inicial da Florense, abriu uma loja de secos & molhados na cidade. Como produzia dormitórios, decidiu vender colchões, colchas e sofá. Também oferecia estátuas de santo, relógios, alianças e tapetes. Era depositário das economias dos agricultores, uma espécie de banco informal. Durou até o início dos anos 1960, quando decidiu entrar na vida pública. Incentivado por amigos elegeu-se vereador aos 30 anos. Foi presidente da Câmara Municipal e algu- mas vezes foi prefeito interino de Flores da Cunha. Liderou a campanha para instalação de uma agência do Banco do Brasil na cidade. Dezessete anos depois, despediu-se da política, pois a Florense crescia com a inauguração de uma nova fábrica e o início das exportações para os Estados Unidos. Unindo seu prestígio com a disposição de ajudar, no final dos anos 1970 seu nome foi lembrado para representar o estado em uma entidade que estava sendo criada para lutar pelos interesses da classe, a Associação dos Fabricantes de Móveis do Brasil (AFAM), que mais tarde deu origem a Abimóvel. Carismático, Lourenço deixou órfão mais do que 100 afilhados, entre batismos, crismas e casamen- tos. Deixou uma legião de seguidores e admirado- res. Por tudo isso, já faz falta ao setor moveleiro. Por Guilherme Arruda, jornalista convidado
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