Móveis de Valor - Edição 218
104 moveisdevalor.com.br O encantador de pessoas A frase dita por Diadorim, personagem no clássico Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, cabe inteirinha na vida do empre- sário Hélio Silva, fundador da Castor, conhecido por Dr. Hélio. Realmente, a vida carece de ter coragem. Coragem de resistir à inércia, de superar obstáculos, enfrentar desafios e a brutali- dade do mundo, coragem para empreender e ousar sem medo. Hélio Silva dispensa clichês, mas quem conviveu com ele sabe que era extremamente agradável, inteligente, ético, habilidoso, comunicativo. Em uma palavra: carismático. Tinha o dom de encantar pessoas pela sua genti- leza, humanidade e simplicidade. Acima de tudo, corajoso. Empreendeu em uma cidade pequena, afastada dos grandes centros urbanos e onde as chances de vencer eram previsivelmente remotas. Acontece que além de ser mestre na arte de fazer amizades, Hélio Silva era curioso, ousado e tinha talento para executar tudo bem-feito, na base da dedicação e do esforço. Outra qualidade sua era acreditar no empenho das pessoas. Desde que optou em ser empresário, manifestou a ambição de avançar para muito além da região de Ourinhos. Desejou ter uma fábrica maior, com galpões distanciados um do outro como proteção contra incêndios. Um sonho que conseguiu reali- zar em 1984. Imaginou asfaltar as ruas internas da Castor e conseguiu. “Quando pequena, brincava nos blocos de espuma e prestava atenção na sua educação peculiar para lidar com os empregados. Exercia uma liderança natural e isso me marcou. Era assim que passava o amor pelo colchão”, conta a filha Hedenise Silva de Oliveira. “Ele fez a diferença. Como pai, foi formidável. Tudo o que aprendi devo a ele e mi- nha mãe. Difícil apontar uma só qualidade. Falar dele e de minha mãe toca o coração”, complemen- ta, sem esconder a emoção. “É indescritível falar dele”. Era admirável, também, a for- ma como aceitava os desafios. Um resiliente refinado. “Não era uma pessoa metódica. Ao contrário, era bastante f lexível diante das necessidades, daí ser de fácil convivência. Res- peitava opiniões diferentes”, recorda Maria Eunice, a espo- sa. “Foi um privilégio tê-lo como marido, pai dos nossos filhos e fundador desta empresa”, complementa a matriarca. Hélio Silva não se opunha a novidades. Quando al- guém aparecia com uma ideia, se valia de uma técni- ca própria que consistia em observar, analisar e para somente depois decidir - quase sempre, a favor. Fora do expediente, em casa, gostava de ler. Ainda solteiro, sem recursos para comprar livros, recorria a um dos seus amigos, dono de uma papelaria que também vendia livros. Com certa frequência, tinha o hábito de sentar-se em uma cadeira disponível na loja e lia os livros que não podia comprar. “Gostava de viajar, uma vez fica- mos 45 dias fora em busca de inovação de espu- ma pela Europa. Em Portugal, sentou-se em num banco ao lado de um português e puxou conversa- va. Queria conhecer melhor o modo de vida dele. Era curioso”, lembra Maria Eunice. Muito provavelmente, ele não tenha imaginado a Castor chegar ao estágio em que se encontra atual- mente. Seu legado nunca será esquecido. Basta sonhar e ter coragem e isso sua família tem. “VIVER É PERIGOSO. CARECE TER CORAGEM”. ESPECIAL
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