Móveis de Valor - Edição 220
74 moveisdevalor.com.br PAULO ALVES REUNIU O DESIGNER E YOUTUBER PAULO BIACCHI E O PROFESSOR GUSTAVO CURCIO minha pergunta”, afirma o designer, que diz ter escolhido os dois convidados com base em seus trabalhos sobre como transformar casas (no caso do youtuber) e nos dados obtidos durante a pesquisa feita pelo professor. Aliás, Paulo Alves já sabia que na pesquisa feita por Gustavo, o que foi considerado determi- nante para a compra de um móvel popular era a estética e não o preço, como muitos achavam. “O estudo foi feito na época em que nascia a chamada ‘nova classe média’, ainda no governo Lula, mas continua ref letindo os desejos des- sas pessoas que ocupam habitações populares. Ficou bem evidente que número de parcelas e durabilidade dos móveis não superam sua esté- tica na hora da compra”, comenta Alves. Ele até tenta fazer uma comparação para que fique mais fácil de entender essa questão do apelo estético: “Às vezes a pessoa que mora na periferia tem um Iphone de última geração, então é preciso que as indústrias entendam que o visual e o status fazem a diferença. E outro ponto importante, que deveria ser mais bem observado, são as dimensões dos móveis, prin- cipalmente com o tamanho das casas diminuin- do ao longo dos últimos anos”. Mas, Paulo Alves e seus convidados vão além, já que não falam somente sobre as mudan- ças que poderiam ser feitas nas indústrias. “A verdadeira beleza está muito ligada à liberdade, a possibilidade de escolha, as identificações... E os grandes magazines fazem justamente o caminho contrário no marketing, pois anun- ciam móveis muito parecidos entre si e acabam focando nas facilidades de pagamento e preço para atrair o consumidor”, analisa. Portanto, tanto os fabricantes quanto os lojistas deixam de entregar design para entregar preço, na visão dos três especialistas. “Isso também fica muito evidente quando entramos nessas lo- jas mais populares e vemos um monte de móvel enfileirado, sem a preocupação em criar uma ambientação para chamar a atenção também para o visual”, acrescenta Paulo Alves. Biacchi observa que há anos existem nessas lojas o que ele chama de sofá croissant, que é aquele que possui braços robustos e curvos, assim como seu encosto, ou seja, não há uma mudança no design para agregar valor ou fazer com que os clientes se identifiquem mais com o móvel, oferecendo mais opções para que a pessoa não tenha sempre um sofá praticamente igual ao do seu vizinho. Alves acredita que é uma questão de tempo para as indústrias saírem da zona de conforto e ofere- cem produtos com design mais interessante. “Na verdade, os fabricantes precisam parar de pensar somente em custos e pensar em aspectos que dife- renciem o seu móvel, pois eles correm um sério risco de serem engolidos pelos chineses que estão entrando no mercado, afinal, é quase impossível competir preço com eles”. Para finalizar, o designer Paulo Alves ref lete sobre o que ele vem observando e sobre o que poderia ser feito. “A casa é ref lexo do indivíduo, mesmo que ele só possa comprar o mesmo tipo de móvel que seus vizinhos, sabendo que talvez ele não dure nem até o final das parcelas, ele tenta colocar elementos decorativos para deixar o espaço com a sua cara. É preciso entender que o modelo fordista das indústrias de móveis está ultrapassado e que a questão não é ven- der barato, mas sim oferecer um produto bem resolvido e destacar seus diferenciais”.
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