Móveis de Valor - Edição 227

59 moveisdevalor.com.br bancário, bem como algumas questões de política pública não resolvidas, complicam as perspecti- vas”, acrescentando: “Há um número significativo de incertezas neste ano. Nossas perspectivas para o ano refletem muitas partes móveis”. Gregory Daco, da Ernst & Young, acrescentou que a situação financeira das famílias está “apre- sentando algumas rachaduras sob a fundação”, observando o aumento da inadimplência e os consumidores recorrendo a compras a crédito para compensar a inflação. “Estaremos em um ambiente de crescimento mais lento, onde uma recessão é cada vez mais provável”, disse ele. Com relação ao impacto sobre os consumidores, ele disse: “Ainda veremos esse fardo da inflação e das altas taxas de juros pesando sobre sua capacidade de gastar”. Fechando a parte econômica, Kleinheinz con- cluiu: “Em todos os meus anos de previsão, este foi um dos períodos mais desafiadores para reu- nir os dados e conectar a economia de hoje com a economia do futuro”. E em meio à previsão econômica baseada em fatores quantificáveis, como empregos, salários, confiança do consumidor, renda disponível, cré- dito ao consumidor, vendas anteriores no varejo e clima, o peso da confiança do consumidor desem- penhará o maior papel na equação. A EQUAÇÃO HUMANA COMO FATOR Afinal, são os consumidores que determinarão o destino do varejo em 2023. Para isso, precisamos nos voltar para a ciência suave da psicologia do con- sumidor, não para a ciência dura dos economistas. As pessoas parecem estar gastando contra seus melhores interesses diante de tanta incerteza econômica e medidas muito reais e quantificáveis de quanto a inflação está lhes custando. Para entender por que isso está acontecendo, procurei o psicólogo do consumidor Chris Gray, fundador do The Buycologist. Ele disse que os vieses cognitivos inatos das pessoas são um fator subjacente que mantém as vendas no varejo fortes por enquanto. E, também, observou que os vieses cognitivos podem estar desempenhando FAMÍLIA FELIZ DESFRUTANDODO PRAZER EMARRUMAR SUA NOVA CASA um papel na forma como os especialistas econô- micos estão lendo os dados, mesmo que sejam treinados para observar seus efeitos. “Nossos cérebros são máquinas muito eficientes. Eles estão sempre tentando encontrar atalhos; é aí que entram as heurísticas e preconceitos. Eles geralmente nos fazem mais bem do que mal, mas podem dar errado. Todos nós os temos, por isso é importante estar ciente deles”, disse. VIÉS DO PONTO CEGO O viés do ponto cego é onde as pessoas acreditam que são menos tendenciosas e mais objetivas do que outras, então não conseguem ver como seus vieses cognitivos podem estar afetando seu julga- mento e tomada de decisão. Isso pode levar os consumidores a acreditar que estão lidando bem com suas finanças e fazendo escolhas melhores do que outros. “Na verdade, somos melhores em prever o compor- tamento de outras pessoas no futuro do que o nosso. Somos péssimos nisso”, disse Gray, acrescentando que a primeira coisa que aprendemos ao estudar psicologia é que as pessoas não são racionais. VIÉS DE OTIMISMO E O EFEITO AVESTRUZ O viés do ponto cego é auxiliado e diminuído pelo viés do otimismo e seu parceiro no crime, o efeito avestruz. O efeito avestruz é um viés cognitivo onde evitamos informações desagra- dáveis ou negativas. O viés do otimismo é nossa tendência de ver as coisas sob uma luz positiva. Queremos nos sentir bem e evitar a ansiedade que nos faz sentir mal.

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