Móveis de Valor - Edição 232

56 moveisdevalor.com.br Artigo de Marcos Gouvêa de Souza , fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo Perspectivas para o varejo em2024 A recuperação dos salários reais, a queda do desemprego, a redução da inflação, a me- lhoria da confiança do consumidor e a leve retração nas taxas de juros não foram suficientes para alterar o quadro dominado pelo elevado endi- vidamento familiar e a inadimplência, ambos ainda rescaldos do período da pandemia e que marcaram o comportamento do consumo ao longo do ano. Para agravar o cenário, problemas pontuais de redes varejistas espalharam percepção negativa sobre todo o setor e que ainda sofreu a concor- rência predatória em várias categorias da venda de produtos importados que chegaram ao país beneficiados pela omissão dos sistemas oficiais de controle. Esse conjunto de fatores, analisado com as lentes frias do sistema financeiro, determina- ram um comportamento negativo das ações ao longo do ano das principais empresas com atua- ção no varejo. E para completar o quadro negativo, o governo se envolvendo, de forma inadequada, em temas que dizem respeito às relações diretas entre varejistas e seus funcionários, tentando politizar o assunto dos trabalhos aos domingos e feriados. Sem falar na polêmica instaurada por iniciativa dos bancos com respeito ao parcelado sem juros, que cami- nha para uma solução positiva negociada com envolvimento de todas as partes olhando o que de fato é melhor para o “consumidor-cidadão”. Sem falar também nas trapalhadas do novo governo que destinou tempo demais para criticar o gover- no passado ao invés de começar a governar. Se 2023 merece ser de fato esquecido, o cenário à frente é bem mais positivo para o setor. A conjugação de menor inflação, a persistência da queda das taxas de juros, a contínua e consistente melhoria do emprego conjugada com o aumento da renda real gerando aumento da massa salarial e a redução do endividamento e da inadimplência devem contribuir para a melhoria da confiança do consumidor e com o aumento da oferta e barateamento do crédito. Esses são os fatores decisivos que podem favorecer a melhoria do consumo e do varejo de forma geral. A ação mais direta do controle fiscal nas entradas de produtos vendidos pelo cross border com a devida taxação deve reduzir o quadro de inequidade competitiva que prevaleceu até agora. E a negocia- ção do parcelado sem juros deve manter sua impor- tância na economia em bases mais realistas. Isso no que envolve diretamente os estímulos ao consumo e seus reflexos no varejo. Mas não pode ser ignorado que a Reforma Tribu- tária, que poderá ser aprovada ainda este ano, já precipitou correções com reflexos nos preços dos produtos, portanto no consumo, por conta de ajus- tes nos ICMs, preventivamente, por vários Estados e que isso deverá se espalhar para muitos mais. Assim como a indevida intromissão do Ministério do Trabalho, que apenas adiou a vigência da regula- mentação proposta sobre envolvimento dos sindica- tos no trabalho aos domingos e feriados. De forma mais abrangente continuam preocupa- ções estruturais envolvendo o Brasil, que adia uma inevitável Reforma Administrativa e faz a Tributá- ria, organizando a economia para pagar a conta de um estado inchado, burocrático e ineficiente e que drena recursos de todos que pagam impostos para sustentar essa situação. Se o horizonte de mais curto e médio prazos sina- liza melhorias para o consumo e o varejo, o mesmo não se pode dizer quando se pensa estrutural e es- trategicamente a Nação. E isso sem dúvida deveria ser motivo de profunda reflexão. E ação. ARTIGO Por Marcos Gouvêa de Souza

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