8 moveisdevalor.com.br A TEMPESTADE PERFEITA O setor moveleiro brasileiro enfrenta o que talvez seja o seu pior cenário em décadas. Uma sucessão de golpes, externos e internos, compõe um cenário devastador – e o pior: com pouca ou nenhuma reação do governo brasileiro. Mas nada está tão ruim que não possa piorar. Quando a indústria ainda tentava se reerguer dos abalos recentes, o governo aplicou uma pesada sobretaxa antidumping sobre o poliol, um dos insumos mais estratégicos da cadeia colchoeira. O impacto é brutal: o custo da espuma pode saltar mais de 40%, comprometendo drasticamente a competitividade do setor. Ao mesmo tempo, a indústria de painéis de madeira – principal matéria-prima para a fabricação de móveis – reajustou seus preços em média 7% distribuidos em julho e agosto. Um movimento que pressiona as margens e sufoca ainda mais a produção. Como se não bastasse, os Estados Unidos, principal destino dos móveis brasileiros, com 26% das Por Ari Bruno Lorandi, CEO da Móveis de Valor exportações, impuseram uma tarifa de 50% sobre os produtos nacionais. Uma barreira comercial que praticamente fecha as portas de um dos únicos mercados que ainda dava algum respiro à indústria. Internamente, o cenário também é desolador. O governo repete que “a economia vai bem”, mas o varejo de bens duráveis conta outra história: os juros continuam altos, o crédito continua retraído, e a inadimplência afasta o consumidor das lojas. De janeiro a maio, o consumo de móveis no Brasil caiu 2,1%, refletindo a perda de fôlego do mercado interno. E enquanto as exportações estagnam, as importações crescem com força: subiram 9,4% no primeiro semestre – e 44% de tudo vem da China. O resultado? Um déficit de 14 milhões de dólares na balança comercial de móveis. E o pior: sem nenhuma salvaguarda por parte do governo brasileiro. É uma tempestade perfeita. E não há como enfrentá-la sem ação coordenada, sem inteligência estratégica e, sobretudo, sem coragem para mudar a rota. Porém, é importante considerar que toda tempestade, por mais intensa que seja, um dia passa. E quem sobrevive a ela não volta igual — volta mais forte, mais preparado, mais estratégico. É hora de agir com inteligência, comunicar com clareza e, acima de tudo, manter o propósito firme: fortalecer a indústria, proteger empregos, gerar valor e reconstruir competitividade. O setor moveleiro brasileiro já superou outras crises e pode, sim, sair dessa mais resiliente — desde que haja união, liderança e coragem para transformar a adversidade em oportunidade. A tempestade é real. Mas juntos, – como fizemos na pandemia em 2020 – podemos atravessar esta tempestade também.
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