Móveis de Valor - Edição 249

8 moveisdevalor.com.br EMPRESÁRIO MOVELEIRO COMPRA FÓRMULA 1 PARA ANDAR A 40 KM/H Nos últimos anos, o setor moveleiro brasileiro tem vivido uma contradição difícil de ignorar. De um lado, vemos empresários investindo em novas máquinas, muitas delas de última geração, com promessas de automação, eficiência e aumento expressivo da produtividade. De outro, a realidade dos números mostra que, entre 2022 e junho de 2025, o volume de produção do setor cresceu apenas 9% — o que significa pouco mais de 2,5% ao ano, em média. A matemática é simples: se a capacidade produtiva aumenta, mas o ritmo de produção cresce em passos tão lentos, há um descompasso evidente entre o potencial das máquinas adquiridas e a forma como elas são efetivamente utilizadas. O cenário mais comum é encontrar equipamentos de alto valor, capazes de operar em ritmo acelerado e com múltiplos recursos tecnológicos, funcionando apenas em um turno de trabalho. Essa subutilização não só reduz drasticamente o retorno sobre o investimento, como acelera o processo de obsolescência tecnológica: a máquina envelhece antes mesmo de entregar tudo o que poderia. Na prática, isso se traduz em um paradoxo: o capital investido não gera proporcionalmente Por Ari Bruno Lorandi, CEO da Móveis de Valor mais valor. O que deveria ser um ganho real de produtividade acaba virando um custo adicional — tanto na aquisição quanto na manutenção. E, com a velocidade das inovações na indústria de bens de capital, não é exagero dizer que parte dessas máquinas se tornará tecnologicamente ultrapassada antes de atingir sequer metade do seu potencial de operação. Outro ponto que merece atenção é a preferência crescente por equipamentos chineses, como vimos no enorme movimento de empresários nos estandes da China na Fimma Brasil. É inegável que, no curto prazo, o preço mais competitivo seduz e permite ampliar a capacidade instalada com menor desembolso inicial. Mas a economia aparente pode se transformar em dor de cabeça futura. O risco de falta de peças de reposição, a demora na logística internacional e a escassez de assistência técnica especializada no Brasil já se mostram problemas concretos em diversos segmentos. No caso de máquinas de alta complexidade, qualquer parada não planejada pode comprometer prazos, contratos e a imagem da empresa diante dos clientes. O resultado final é um círculo vicioso: investese pesado em tecnologia, mas sem estratégia de produção que maximize seu uso; isso mantém o crescimento da produção em ritmo modesto, enquanto os custos fixos aumentam e a depreciação corre no relógio. É como comprar um avião para voar apenas aos domingos, ou adquirir um carro de Fórmula 1 para rodar dentro da cidade a 40 km/h. O que falta é uma mudança de mentalidade. Antes de modernizar o parque fabril, é preciso modernizar o modelo de gestão. Planejar turnos adicionais, explorar novos mercados, ajustar portfólios e integrar melhor as equipes de vendas e produção são passos essenciais para que o investimento em máquinas se traduza em produtividade real e competitividade duradoura. Caso contrário, a tecnologia continuará sendo mais um troféu de vitrine do que uma ferramenta de crescimento sustentável.

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