ANO 24 • EDIÇÃO 250 • SETEMBRO DE 2025 INFORMA. INSPIRA. TRANSFORMA. As cozinhas do futuro chegaram O que fazer para equilibrar a escassez de mão de obra Embalagem é o novo peso da indústria moveleira Exportações despencam em agosto por causa do Tarifaço @moveisdevalor
4 moveisdevalor.com.br Por Inalva Corsi, editora E stá chegando a você, caro leitor, a edição de setembro, trazendo os principais acontecimentos do setor. E este mês, que marca a chegada da primavera, também é o mês que, tradicionalmente, trabalhamos o Especial Cozinhas. Na reportagem, assinada pela jornalista Natalia Concentino, você confere quais são as tendências em design, uso de novos materiais e ferragens que tornam as cozinhas cada vez mais funcionais, modernas e integradas com aplicativos e smartphones. Nesta edição também acompanhamos eventos, como o VEX 25, realizado em Foz do Iguaçu (PR), e que reuniu mais de quatro mil pessoas. Com grandes nomes da economia, política, especialistas em vendas, tecnologia e comportamento do varejo, o VEX – idealizado pela Gazin –, promove conexões, aprendizados e oportunidades, e se consolidou como o maior evento de varejo do Sul do País. Por seu lado, o Latam Retail Show, realizado em São Paulo, atraiu 3,8 mil pessoas e debateu temas como evolução no varejo, IA e as transformações digitais, comportamento e experiência do consumidor e performance operacional. A MV traz um resumo do que aconteceu. A editoria de Varejo traz matérias importantes como a mudança de dono da Casas Bahia e a possibilidade de vender móveis pelo TikTok Shop. E, com o fim de ano chegando, os varejistas planejam as vendas de Black Friday e Natal. Matéria elaborada pelo jornalista Guilherme Arruda revela que para atingir boa performance de vendas os varejistas precisam de muita visão e atitude firme. E a demanda, cada vez mais exigente de varejistas, especialmente de e-commerce, em relação às embalagens dos móveis, preocupa os fabricantes, que mais uma vez precisam arcar com os custos. A reportagem do MV Observatório aborda os desafios da Indústria 5.0 e a preocupação com retenção e capacitação de talentos. Esta edição também mostra que o tarifaço fez as exportações de móveis para os EUA recuarem 24% em agosto; e que mudanças no modelo de negociação de ações na B3, a bolsa de valores de São Paulo, irão permitir que empresas que faturam menos de R$ 500 milhões por ano abram o capital, com pouca burocracia. Confira estas e outras reportagens especialmente preparadas para mantê-lo bem informado sobre tudo que acontece no setor e facilitar a sua tomada de decisões. Confira também os novos recursos visuais na versão digital, disponível no portal www.moveisdevalor.com.br. REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO Rua Dep. Estefano Mikilita, 125 - 3º andar CEP 81070-430 - Portão Curitiba – PR – Brasil CONTATO Fone (41) 99912-9877 www.moveisdevalor.com.br moveisdevalor@moveisdevalor.com.br DIRETORES Ari Bruno Lorandi aribruno@moveisdevalor.com.br Inalva Corsi inalvacorsi@moveisdevalor.com.br ADMINISTRAÇÃO/FINANÇAS Juliana Pinheiro financeiro@moveisdevalor.com.br REDAÇÃO Inalva Corsi – 3035 PR Jornalista Responsável inalvacorsi@moveisdevalor.com.br Natalia Concentino – 10431 PR natalia@moveisdevalor.com.br João Caetano Guimarães caetano@moveisdevalor.com.br Guilherme Arruda – 5955 RS Jornalista convidado guilherme@moveisdevalor.com.br DIREÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO Bruna Rosário arte@moveisdevalor.com.br ASSINATURAS E CIRCULAÇÃO assina@moveisdevalor.com.br COMERCIAL – SUL Inalva Corsi - (41) 99912-9877 | 99991-2974 inalvacorsi@moveisdevalor.com.br COMERCIAL – SUDESTE Cidinha Leal - (17) 98114-3666 cidinha@moveisdevalor.com.br CARTA DA EDITORA @moveisdevalor Acesse a versão digital desta edição
5 moveisdevalor.com.br SUMÁRIO NOSSA CAPA Ilustra capa desta edição Cozinha Kali Bianco Tok e Chumbo, da Nicioli, de Arapongas (PR) www.nicioli.com (43) 3308-8300 34 ESPECIAL COZINHAS Beleza e funcionalidade moldam as cozinhas modernas 62 MV OBSERVATÓRIO Capacitação de mão de obra é o grande desafio da Indústria 5.0 SEÇÕES 8 CÁ ENTRE NÓS Da tempestade perfeita podemos criar a primavera moveleira 10 PONTO DE VENDA Economistas preveem varejo mais fraco segundo semestre 46 DESTAQUE DE CAPA Nicioli tem liderança feminina e foco convicto na cozinha 12 DE FRENTE COM OS NÚMEROS Fim do ano vai exigir visão e atitude firme dos varejistas 16 ECONOMIA Sua indústria vai poder captar recursos na Bolsa de Valores 20 MERCADO Tarifaço faz exportações para os EUA recuarem 24% em agosto 22 VAREJO Você já pensou e vender móveis pelo TikTok Shop? 26 VAREJO Casas Bahia muda de dono e encerra ciclo de 70 anos 28 E-COMMERCE Embalagens vão pesar mais no custo final da indústria 48 FEIRAS E EVENTOS VEX 2025 se consolida como maior evento de varejo do Sul 60 FEIRAS E EVENTOS Latam Retail Show ajuda a redefinir o varejo atual 72 ARTIGO Indústria 5.0 está recolocando as pessoas no centro da produção 76 BED REPORT O desafio de vender premium no varejo físico brasileiro 82 TRILHA ESG Governança como estratégia para negócios mais lucrativos 88 NOTAS INDÚSTRIA Setor moveleiro de SC contrata lobby para reverter tarifaço
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8 moveisdevalor.com.br DA TEMPESTADE PERFEITA PODEMOS CRIAR A PRIMAVERA MOVELEIRA Estamos atravessando um dos piores cenários para o setor moveleiro em décadas. Uma sucessão de golpes externos e internos nos colocou diante de uma verdadeira tempestade perfeita. A indústria de colchões, que ainda buscava se reerguer, depois de uma estagnação do mercado, foi surpreendida por uma sobretaxa antidumping sobre o poliol. O impacto? Um aumento de até 40% nos custos, corroendo competitividade e inviabilizando estratégias que já estavam sob pressão. Os preços das matérias-primas não param de subir, ignorando as dificuldades da indústria que não encontra consumo para atender a produção no mercado interno. E, como se não bastasse, os Estados Unidos, destino de 26% das nossas exportações de móveis, ergueram um muro tarifário de 50%. Um golpe direto, que praticamente fecha as portas de um dos poucos mercados que ainda davam algum alívio à indústria brasileira. É duro. É grave. É desafiador. Mas não é a primeira vez que enfrentamos tempestades. E, se olharmos para a nossa própria história, sabemos que também não será a última. A diferença é: o que faremos agora? Vamos esperar pela próxima onda Por Ari Bruno Lorandi, CEO da Móveis de Valor de choque? Ou vamos transformar esse momento em um ponto de inflexão? Está na hora de construirmos juntos o que eu chamo de Primavera Moveleira. Um tempo de renovação. De florescimento. De preparação para que, quando novos ventos contrários vierem — e eles virão — estejamos prontos. Mais prontos do que estivemos até agora. Isso exige esforço coletivo. Exige união de toda a cadeia: fornecedores, indústrias, lojistas, entidades de classe, associações. Exige visão estratégica, previsibilidade, capacidade de antecipar movimentos globais e de defender, com firmeza, a nossa competitividade dentro e fora do Brasil. A Primavera Moveleira não vai acontecer sozinha. Ela precisa ser construída. Com diálogo. Com inteligência setorial. Com ações coordenadas que façam frente às barreiras, mas também abram novos caminhos de oportunidade. Deixo aqui um chamado: Chega de enfrentar as tempestades de forma isolada. Chega de sermos surpreendidos sem preparo. O setor moveleiro e colchoeiro brasileiro tem força, tem talento, tem resiliência. Mas só teremos futuro se caminharmos juntos. Se transformarmos esta crise em aprendizado. Se fizermos da tempestade perfeita… o início da nossa Primavera Moveleira.
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10 moveisdevalor.com.br PERSPECTIVAS PARA 2025 DO COMÉRCIO MUNDIAL DE MÓVEIS O comércio internacional de móveis alcançou US$ 178 bilhões em 2024, após um ano de recuperação. No entanto, as perspectivas para 2025 são de queda, principalmente devido a um cenário de incerteza política e tarifas elevadas. A instabilidade nas negociações comerciais tem um peso significativo nas decisões globais de comércio e investimento. A China lidera o ranking de exportação de móveis, seguida por Vietnã, Polônia, Itália e Alemanha. A incerteza nas políticas comerciais pode levar os países a diversificarem seus mercados. A disputa comercial entre EUA e China, em particular, tende a gerar uma mudança no fluxo de comércio, o que pode aumentar a concorrência para países terceiros que exportam para esses mercados. GOVERNO INVESTE R$ 3,4 MI PARA FORTALECER E-COMMERCE NO NORTE A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), vinculada ao MDIC, selecionou nove iniciativas para incentivar o crescimento do comércio eletrônico fora do eixo Sudeste. O edital, lançado em janeiro dentro do programa ecomerce.br, destinou R$ 380 mil a cada projeto — totalizando R$ 3,4 milhões — com a meta de apoiar 1,1 mil empresas em seis meses. Os três melhores projetos-pilotos receberão, a partir de março de 2026, um novo aporte de R$ 500 mil cada para serem replicados em maior escala. Segundo o MDIC, o comércio eletrônico movimentou R$ 225 bilhões em 2024, alta de 14,6% em relação a 2023 e de 311% nos últimos cinco anos. Desde 2016, o setor já acumulou R$ 1 trilhão em transações, o equivalente a 3,5% do PIB. ECONOMISTAS PREVEEM VAREJO MAIS FRACO NO 2º SEMESTRE O quarto mês seguido de queda nas vendas varejistas em julho, com o -0,3% divulgado pelo IBGE, reforçou a leitura de desaceleração da atividade, já antecipada pelos economistas, e teve como destaque o recuo em segmentos mais voltados à renda, como supermercados. Já comércio varejista ampliado, que inclui segmentos ligados ao crédito, avançou 1,3% na comparação com junho — mas contraiu 2,5% frente ao mesmo mês do ano anterior. Em sua análise, Rodolfo Margato, economista da XP, comentou que as atividades mais dependentes das condições de crédito vêm esfriando em meio ao cenário de juros elevados e aumento do endividamento das famílias. AMAZON EXPANDE LOGÍSTICA NO BRASIL COM MAIS 800 PONTOS DE ENVIO A Amazon Brasil expandiu sua operação logística com a integração da rede de pontos de envio, dentro do programa Delivery by Amazon (DBA). A iniciativa permite que vendedores parceiros deixem pacotes em locais designados, que depois são enviados aos clientes por meio da frota de transporte própria da companhia, composta por parceiros locais e regionais. A meta é alcançar mais de 800 pontos até o fim do ano. O movimento faz parte do plano de investimento para 2025 e busca fortalecer a experiência de clientes e vendedores. Estabelecimentos comerciais que aderem à rede recebem benefícios da operação, enquanto os parceiros de venda passam a contar com uma solução de envio mais ágil e próxima de seus negócios. PONTO DE VENDA
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12 moveisdevalor.com.br Na reta final de 2025 as vendas exigirão muita visão e atitude firme do varejista Os meses que restam até o fim do ano reúnem fatores suficientes para tornar a venda de móveis ao mesmo tempo turbulenta e esperançosa. Embora a renda média do brasileiro tenha dado sinais de melhora, há um vento contra que deixa o consumidor inseguro, como juro em patamar elevado, inadimplência em alta, e inflação bem acima da meta, o que leva a um certo paradoxo: há mais renda disponível, mas o crédito caro faz o consumidor resistir em comprometer parte do seu orçamento com dívidas longas. Exceto a classe de alto poder aquisitivo, os demais consumidores vão optar por uma seletividade e moderação nas compras, em especial, quem tem renda até três salários-mínimos e que irão pensar duas vezes antes de tomar decisão. Essa desaceleração será mais intensa em setembro e outubro. Em novembro tem Black Friday e com ela uma avalanche de promoções e descontos com força para motivar compras antecipadas para o Natal. Merula Borges, especialista em finanças da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) projeta crescimento na Black Friday e tendência de antecipação das compras de Natal, um fenômeno que vem ganhando força nos últimos anos, conta. “O Natal conserva a posição de maior ocasião de vendas do varejo pelo peso simbólico da data, pagamento de 13º salário, empregos temporários e o apelo emocional das celebrações familiares”, acrescenta. Eduardo Terra, co-fundador do Instituto Retail Think Tank (IRTT) e do BTR Varese, considera O QUADRO COMBINA DESACELERAÇÃO ECONÔMICA MODERADA, JUROS ELEVADOS, INADIMPLÊNCIA EM ALTA E CONSUMIDOR QUE VAI REFLETIR ANTES DE COMPROMETER A RENDA EM COMPRAS PARCELADAS A ESPERANÇA É MOVIMENTO MAIOR NA BLACK FRIDAY, IMPULSIONADA PELA ANTECIPAÇÃO DAS COMPRAS DO NATAL, FENÔMENO QUE VEM CRESCENDO NOS ÚLTIMOS ANOS DEVIDO A DESCONTOS E PROMOÇÕES DE FRENTE COM OS NÚMEROS Por Guilherme Arruda, jornalista convidado
13 moveisdevalor.com.br que a Black Friday será interessante pelo segundo ano consecutivo, pelo fato de acontecer na data de pagamento do 13º salário, “o que historicamente, tem dado a data certa potência, mas, ao mesmo tempo, uma antecipação de compras de Natal”, lembra. “Aconteceu no ano passado ter uma Black muito boa e um Natal magrinho e as previsões é que esse ano isso se repita”, prevê. Vitor Guidini, presidente do Sindimol, concorda que a Black Friday pode trazer bons resultados, desde que seja bem planejada. “Não é só sobre dar desconto — é sobre entender o que o cliente valoriza e como comunicar isso com clareza. Para quem não vê na data uma oportunidade real, o caminho está em ações mais direcionadas: fortalecer o relacionamento com clientes, criar ofertas personalizadas e explorar outras datas com apelo regional. O importante é manter o comercial ativo e a marca presente”, aconselha. Irineu Munhoz, presidente da Abimóvel, também projeta um cenário de marasmo no consumo intercalado por picos de demanda em novembro e dezembro e margens sob pressão. “Será um período que exigirá estratégia das empresas para não depender apenas da guerra de preços e, ao mesmo tempo, diálogo constante com o poder público para assegurar avanços e preservar a competitividade da indústria nacional”, comenta. Munhoz comemora o desempenho do setor no primeiro semestre, que cresceu 2,8% em volume e 7,8% em receita com apoio da produtividade e geração de empregos, mas é cauteloso sobre o futuro. “Seguimos enfrentando crédito caro, endividamento elevado, e sofremos os efeitos da tarifa imposta pelos Estados Unidos. Apesar disso, a expansão da massa salarial e a resiliência do mercado de trabalho dão algum fôlego à demanda”, diz. INADIMPLÊNCIA PREOCUPA A inadimplência continua em patamar elevado. A Confederação Nacional do Comércio (CNC), calcula em 6,21% em setembro. O levantamento mostra que 38% das famílias com renda até três salários-mínimos estavam inadimplentes Merula Borges, especialista em finanças da CNDL Eduardo Terra, cofundador do Instituto Retail Think Tank e do BTR Varese em julho, o pior nível em mais de dois anos. No total, são 78,16 milhões de pessoas com dívidas em atraso, maior contingente da série histórica da Serasa Experian. Em julho, 30% das famílias declararam não conseguir quitar suas dívidas, e 12,7% afirmaram que não terão condições de pagar os atrasos — maior taxa desde dezembro de 2024. Com a Selic em patamar elevado, os juros cobrados no comércio chegam a 5,5% ao mês, 0,5 ponto acima de um ano atrás, segundo a Associação Nacional de Executivos (Anefac), situação que – afora a inadimplência – encarece os financiamentos, reduz a atratividade das compras de quem precisa de prazo. E mais: custos elevados de capital desestimulam o investimento produtivo e a migra-
14 moveisdevalor.com.br ção para aplicação conservadoras, reduzindo a liquidez no varejo. José Lopes Aquino, presidente do SIMA, de Arapongas, observa que, enquanto o BC mantém os juros elevados, o governo federal amplia a injeção de recursos na economia, especialmente para as pessoas da base da pirâmide que ganham até três salários-mínimos. “De um lado mantém-se o nível de consumo no curto prazo, mas eleva o custo da dívida para as pessoas, contratando no presente um desfecho maléfico para 2026-2027”, analisa, apostando que o consumo manterá o nível de produção do polo de Arapongas acima do primeiro semestre. José Lopes Aquino, presidente do SIMA, Arapongas Agentes de inteligência artificial (IA), softwares capazes de realizar tarefas operacionais de forma automatizada, vão entrar em cena nas operações de e-commerce de grandes varejistas durante a Black Friday, com objetivo de aprimorar descrições de produtos, resumir avaliações de clientes, negociar com fornecedores e indicar a melhor localização de itens em centros de distribuição estão entre as tarefas que agentes de IA já realizam em empresas como Amazon, Grupo Carrefour, Magazine Luiza e Mercado Livre. A IA consegue incluir dados sobre cores e texturas de produtos, além de tornar os títulos dos anúncios mais atrativos, conta o diretor de Tecnologia para a Amazon.com na América Latina e Ásia-Pacífico, Leandro de Paula. “Hoje recebemos 15% da informação necessária [sobre o anúncio do produto] e o restante, a IA completa analisando imagens, textos, além de descrever o produto em tópicos”, explica o brasileiro, que atua na sede da Amazon, em Seattle (EUA). INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL VAI AUXILIAR E-COMMERCE NA BLACK FRIDAY
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16 moveisdevalor.com.br O próximo passo do seu negócio? Captar recursos na Bolsa de Valores A indústria moveleira brasileira sempre caminhou no compasso da tradição. Cresceu na base do suor e trabalho, reinvestindo os lucros, enfrentando crises e, quando necessário, recorrendo ao crédito bancário. Bolsa de Valores? Nem pensar. Sempre pareceu algo distante, um território restrito a corporações bilionárias. Até hoje apenas uma empresa moveleira de raiz, a Unicasa, está na B3. Mas essa percepção de dificuldade começará a mudar a partir de janeiro de 2026, quando inicia o Regime FÁCIL, novo modelo de negociação de ações na B3, a bolsa de valores de São Paulo. Criada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão regulador do mercado de capitais, a novidade derruba a muralha que separava pequenas e médias empresas desse ambiente ao facilitar o acesso de qualquer companhia com receita bruta anual abaixo de R$ 500 milhões e com menos burocracia. É uma oportunidade de captar recursos e financiar a expansão sem depender apenas dos bancos. Embora o foco seja levantar fundos, ganhar credibilidade e preparar o futuro da empresa, abrir o capital exige disciplina, custos iniciais e disposição para exposição pública. A pergunta é: o que custa mais caro? Arriscar a transformação ou ficar parado enquanto o mercado avança? Quem está acostumado a navegar em águas conhecidas, certamente vê a Bolsa como algo arriscado. É natural pensar assim, mas não se trata de exigir que um pequeno industrial se torne um “tubarão de Wall Street”. A BALANÇA ENTRE O BOM E O RUIM Antes de ingressar nesse universo, é preciso A PARTIR DE JANEIRO DE 2026, INDÚSTRIAS MOVELEIRAS PODERÃO CONTAR COM O REGIME FÁCIL, MODALIDADE DO MERCADO DE CAPITAIS QUE FACILITARÁ A OBTENÇÃO DE FUNDOS PARA ALAVANCAR NEGÓCIOS DESTINADO A QUALQUER EMPRESA COM FATURAMENTO ANUAL INFERIOR A R$ 500 MILHÕES, O NOVO MODELO PERMITE BLINDAR O NEGÓCIO CONTRA CRISES E AINDA REDUZIR A DEPENDÊNCIA DO DINHEIRO DE BANCOS ECONOMIA Por Guilherme Arruda, jornalista convidado
17 moveisdevalor.com.br dizer que os investidores sempre estão interessados em empresas que ofereçam produtos diferenciados, sustentáveis, personalizáveis; que se destacam em mercados saturados; que tenham potencial de crescimento exponencial, gestão profissional e transparente; governança corporativa sólida; que façam monitoramento de tendências e comportamento do consumidor, e acesso a mercados externos. E mais: não é possível desistir de ter um plano de crescimento mensurável, mostrar resultados consistentes, mesmo que em pequena escala, participar de feiras e eventos com visibilidade, investir em branding, ter ótima comunicação institucional, buscar certificações e selos que agreguem credibilidade, e firmar parcerias com influenciadores do setor, arquitetos e designers. A mudança mais sensível, porém, é mudar o formato societário da empresa, de companhia limitada para sociedade anônima, movimento um tanto desconfortável levando em conta o pensamento conservador e cauteloso dos empresários do setor. Acima de tudo resistentes a mudanças, pois significa expor ao público dados sensíveis como receitas, custos de produção, EBITDA, lucros, tudo hoje trancados a sete chaves e acessados apenas pela família e o contador. Atualmente, para entrar no mercado de capitais é preciso seguir um roteiro que inclui registro de companhia aberta, registro de oferta de ações, debêntures ou outros valores mobiliários. O processo envolve auditorias, compliance, pareceres jurídicos, taxas, divulgações periódicas, etapas que além de encarecer se tornam longas. Tudo o que travava o acesso, desaparece com as chamadas Companhias de Menor Porte (CMP) – mas ninguém escapa de pagar para aderir. POTENCIAL DESCONHECIDO "O Regime FÁCIL tem o objetivo de preencher o espaço existente entre o crowdfunding (financiamento coletivo) e o mercado tradicional. Esperamos que se consolide como a principal via regulatória para companhias de menor porte acessarem o mercado de capitais, com regras proporcionais às suas realidades", diz Antonio Berwanger, Superintendente de Desenvolvimento de Mercado (SDM) da CVM. O prédio da B3 representa não apenas a infraestrutura física da bolsa, mas também sua presença sólida e líder nos mercados financeiro e de capitais SETE VANTAGENS QUE PODEM MUDAR O JOGO 1. Capital para crescer – A empresa pode levantar recursos para modernizar fábricas, ampliar linhas de produção, investir em design ou conquistar novos mercados. Tudo sem juros bancários sufocantes. 2. Mais credibilidade – Estar listada na B3 significa entrar em outro patamar de reputação. Mesmo negócios locais passam a ser vistos como sólidos, transparentes e confiáveis. 3. Atração de investidores estratégicos – A abertura de capital pode trazer fundos especializados ou investidores institucionais que enxergam alto potencial em empresas menores e regionais. 4. Liquidez para sócios – Os fundadores podem realizar parte do valor do negócio sem vendê-lo por inteiro, mantendo o controle e, ao mesmo tempo, diversificando seu patrimônio. 5. Governança que fortalece – As exigências de transparência e auditoria aceleram a profissionalização da empresa, criando bases mais sólidas para o longo prazo. 6. Visibilidade ampliada – Empresas listadas atraem atenção da mídia financeira, de analistas e de novos parceiros comerciais. 7. Multiplicação de valor – Bem gerida, uma companhia pode ver suas ações se valorizarem, tornando-se uma “small cap” promissora e apta a migrar para segmentos mais sofisticados da Bolsa.
18 moveisdevalor.com.br Hoje, o setor aparece indiretamente na B3, através de nomes como Magazine Luiza, Mobly, Grupo Casas Bahia, Westwing, Multilaser, e diretamente, apenas com a Unicasa, de Bento Gonçalves (RS). Analistas lembram marcas consolidadas no mercado com potencial de aderir, como Todeschini, Herval, Kappesberg, Itatiaia e Florense. Na ponta do lápis, considerando um grupo com receita bruta anual acima de R$ 80 milhões, o número estimado não chega a 150 – ou 0,4% do total de unidades industriais. Mesmo convivendo com margens apertadas, oscilações de mercado e o fato de não ser reconhecida, essas condições não são impeditivas: é, meramente, uma oportunidade. O mercado de ações deve ser palco onde as empresas podem se tornar grandes, desde que tenham uma história, fundamentos sólidos e visão de longo prazo. O convite está feito. No site da CVM há mais informações sobre o Regime FÁCIL - www.gov.br/cvm/pt-br Também há uma lista de corretoras certificadas pela B3 – l1nq.com/0NrNW 10 PASSOS PARA ENTRAR NO MERCADO DE CAPITAIS 1. Novo regime para pequenas e médias empresas: O FÁCIL permite que companhias com faturamento bruto anual abaixo de R$ 500 milhões tenham acesso simplificado ao mercado de capitais. 2. Dispensas regulatórias significativas: Empresas classificadas como CMP (Companhias de Menor Porte) podem substituir documentos complexos por versões simplificadas, como o Formulário FÁCIL e o ISEM. 3. Menos burocracia nas assembleias: CMPs podem realizar assembleias com dispensa das regras de votação à distância, reduzindo custos e complexidade. 4. Flexibilização na divulgação de informações contábeis: Em vez de relatórios trimestrais, as CMPs podem divulgar dados semestrais, tornando o processo mais leve. 5. Desobrigação de relatório de sustentabilidade: Empresas menores ficam dispensadas de apresentar o relatório previsto na Resolução CVM 193. 6. Facilidade para cancelamento de registro: O quórum de sucesso para OPA cai de 2/3 para 50% das ações em circulação, facilitando a saída da bolsa. 7. Quatro formatos de oferta pública disponíveis: Inclui a nova “oferta direta”, que dispensa registro na CVM e contratação de coordenador — ideal para empresas emergentes. 8. Inclusão de empresas não registradas na CVM: Mesmo sem registro, companhias podem realizar ofertas de dívida para investidores profissionais, com limite de R$ 300 milhões. 9. Responsabilidade do investidor profissional: Cabe ao investidor demandar as informações necessárias, como auditoria das demonstrações financeiras, em ofertas sem registro. 10. Adesão simplificada ao regime FÁCIL: Emissores já registrados podem migrar mediante anuência dos investidores; novos emissores aderem automaticamente ao se listarem em mercado organizado. ECONOMIA
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20 moveisdevalor.com.br Tarifaço faz exportações recuarem 24% para os EUA em agosto O s efeitos do tarifaço iniciado na primeira semana de julho tiveram reflexos mais acentuados nas exportações de móveis no mês de agosto, cujo resultado foi 21,8% menor em relação a julho e 24,1% abaixo de agosto do ano passado. No acumulado janeiro-agosto, o recuo foi de 5,5% sobre igual período de 2024. Os dados são da Comex Stat/MDIC. O polo moveleiro de São Bento do Sul (SC) embarcou US$ 2,3 milhões em agosto desse ano, registrando retração de 42,8% no comparativo com agosto do ano passado – o pior resultado em dez anos – e 77,6% inferior ao pico obtido nesse período, em 2022, com US$ 10,3 milhões. Rio Negro (PR) aparece com o segundo pior resultado entre os dez maiores polos exportadores para o mercado norte-americano, com queda de 24% (US$ 891 mil) O levantamento mostrou que o mês de agosto totalizou US$ 15,191 milhões, sendo o segundo pior resultado para o mês em uma década, sendo superado apenas pelos embarques de 2016, com US$ 13,571 milhões. No acumulado de oito meses, o volume exportado bateu em US$ 150,2 milhões ante US$ 159,0 milhões sobre mesmo intervalo do ano passado, encolhimento de 73% sobre 2016. Principal polo exportador brasileiro para os EUA, com volume de US$ 7,5 milhões, Santa Catarina obteve em agosto desse ano queda de 16,1% sobre agosto do ano passado. No entanto, na soma dos oito primeiros meses, embarcou US$ 77,1 milhões, POLO MOVELEIRO DE SÃO BENTO DO SUL (SC), MAIOR EXPORTADOR DE MÓVEIS DO PAÍS, EMBARCOU 42,8% MENOS NO COMPARATIVO COM AGOSTO DO ANO PASSADO MERCADO Por Guilherme Arruda, jornalista convidado
21 moveisdevalor.com.br desempenho 2,5% superior a igual intervalo do ano passado, mantendo-se na liderança das vendas. Na segunda posição aparece São Paulo, com US$ 4,0 milhões, recuou 35,7% em relação a igual mês de 2024 – Rio Grande do Sul e Paraná mantiveram praticamente os níveis no mês de agosto entre um ano e outro. DE JANEIRO A AGOSTO EXPORTAÇÕES AOS EUA SÃO POSITIVAS Em oito meses, o Brasil exportou US$ 594,9 milhões, resultado 5,7% acima de janeiro-agosto de 2024. Santa Catarina manteve a primeira posição nas exportações totais, com US$ 182,2 milhões na soma de oito meses, alta de 8,3% no comparativo com igual período do ano passado. O Rio Grande do Sul, na segunda posição, com US$ 167,5 milhões, permaneceu sem alteração no mesmo comparativo, enquanto São Paulo e Paraná cresceram 8%, cada. Em agosto, o Brasil embarcou US$, 73,4 milhões, o que corresponde a 1,1% a mais sobre agosto do ano passado e -12% em relação a julho desse ano. O polo gaúcho foi o que mais vendeu móveis no mercado externo em agosto, com US$ 24,8 milhões, que corresponde a 5,0% a mais sobre agosto de 2024. Santa Catarina exportou US$ 17,3 milhões, resultado 11,8% menor igual mês de 2024. Nas importações houve um pequeno salto de 8,5% nos volumes embarcados. Foram US$ 617,3 milhões em oito meses desse ano, ante US$ 569,4 milhões em 2024, resultado que gerou um déficit na balança comercial de US$ 22,3 milhões em 2025 e de pouco mais de US$ 200 milhões na soma de uma década. A China dominou as compras em oito meses com US$ 273,7 milhões (44,3% do total), volume 5% a mais que nos primeiros meses de 2024.
22 moveisdevalor.com.br Já pensou em vender móveis pelo TikTok Shop? O TikTok Shop é uma plataforma de compras lançada recentemente no Brasil, mais especificamente em maio deste ano, e traz uma proposta interessante para os lojistas: venda rápida e direta, porque o comprador não precisa, em nenhum momento, sair do aplicativo ou clicar em algum link de redirecionamento. O TikTok Shop é uma maneira diferente de compra, em que o consumidor vê o produto e tem mínimas chances de desistir de comprá-lo no “meio do caminho”, como ocorre em alguns tipos de live commerce que acontecem em outros canais, como Instagram e YouTube, por exemplo. “O TikTok Shop faz a integração do social commerce com a jornada de compra completa. O consumidor não precisa sair do aplicativo: ele vê o conteúdo, descobre o produto, confere as informações e finaliza a compra dentro do TikTok. Para o lojista, isso significa unir a força do conteúdo engajador com a conversão direta, algo muito poderoso em termos de vendas”, explica Claudio Dias, CEO da Magis5 – braço de automação e integração para os lojistas que atuam no TikTok Shop. Apesar de que no começo o maior destaque é a venda de itens menores e de mais fácil envio como cosméticos e vestuário, o TikTok Shop pode ser uma plataforma atrativa para a venda de móveis. “Diferente de um batom ou uma camiseta, o móvel não é uma compra por VAREJO A PLATAFORMA FOI LANÇADA HÁ POUCO TEMPO NO BRASIL, MAS JÁ ESTÁ SE MOSTRANDO UM SUCESSO EM OUTROS SETORES COMO COSMÉTICOS E VESTUÁRIO O SUCESSO DOS CONTEÚDOS DE REFORMA E DECORAÇÃO PODE SERVIR COMO ALIANÇA ESTRATÉGICA PARA QUE OS VAREJISTAS VENDAM MÓVEIS NO TIKTOK SHOP PRODUÇÃO DE CONTEÚDO EM PARCERIA COM CRIADORES E LIVES SÃO O MELHOR CAMINHO PARA QUEM BUSCA RELEVÂNCIA NESSA PLATAFORMA DE VENDAS Por Natalia Concentino jornalista
23 moveisdevalor.com.br impulso. Então o conteúdo precisa ser mais aspiracional: mostrar ambientes decorados, dar dicas de organização, trazer reviews reais. Quem já tem catálogo digital organizado encontra no TikTok Shop uma vitrine poderosa, mas precisa pensar na jornada de conteúdo e principalmente na jornada de compra do cliente”, avisa Claudio Dias. Por isso, Hallana Ávila, head de marketing advertising da KAKOI Comunicação, lembra que a marca que deseja vender móveis no TikTok Shop pode aproveitar criadores de conteúdo que falam sobre casa e decoração para mostrar o mobiliário em vídeos de projetos. “O móvel ambientado chama mais atenção de quem está querendo comprar, principalmente do público das gerações Z e Alpha, que são os que mais utilizam essa rede social. Então, por meio de um vídeo feito por criadores desse tipo de conteúdo o móvel pode ser anunciado e já ser incluído o ícone para que o usuário possa clicar e fazer a compra”, explica. Hallana observa que essa comunicação entre marcas e criadores de conteúdo é facilitada pelo próprio TikTok. “As marcas podem sinalizar alguns produtos como disponíveis para que criadores de conteúdo da área que estejam interessados possam acessá-los e produzir vídeos em que eles apareçam para fazer a venda. Logicamente, existe uma taxa de comissão, mas tudo isso é feito de uma forma fácil e intermediada pelo TikTok”, comenta. A especialista em marketing pontua que entre os conteúdos mais consumidos no TikTok estão reforma e decoração, ou seja, a venda de móveis na plataforma pode ser a grande união desses dois mundos. “As marcas podem aproveitar justamente os gatilhos de urgência de quem está assistindo aos vídeos ou mesmo às lives shops para ter uma taxa de conversão maior, já que o TikTok Shop ‘pega’ a pessoa na hora do desejo”. Mas ela lembra que as empresas precisam inovar e não devem apostar no mesmo tipo de conteúdo para todas as redes sociais, sendo que no TikTok isso fica ainda mais evidente, já que todo o Claudio Dias, CEO da Magis5 Hallana Ávila, head de marketing advertising da KAKOI Comunicação processo de compra é feito por lá e acaba atingindo um público mais jovem. Hallana Ávila dá uma dica para quem quer vender no TikTok Shop. “Não dá para esperar ter uma produção hollywoodiana para começar a gravar vídeos ou fazer lives. A plataforma é fácil de se cadastrar, a taxa de comissão é baixa e eles estão criando cada vez mais benefícios relacionados a frete. Quem está interessado pode começar pelos vídeos e depois evoluir para as lives”, destaca. Claudio Dias, da Magis5, explica o passo a passo para levar sua marca à plataforma. “O primeiro passo é se cadastrar como seller na plataforma. Depois, é preciso organizar o catálogo de produtos, incluindo boas fotos, descrições claras e informações de medidas, no caso de móveis isso é essencial”. Ele acrescenta que é preciso ter uma definição de logística para escolher a melhor forma de entrega e deixar isso claro ao cliente. “O
24 moveisdevalor.com.br EXPERIÊNCIA COMO CONSUMIDORA Eu, Natalia Concentino, repórter da Móveis de Valor, resolvi dar uma olhada no conteúdo relacionado à venda de móveis no TikTok Shop para entender o que já vem sendo feito e trazer um relato para você, leitor, que quer vender nessa plataforma: Em uma rápida pesquisa já notei que as grandes marcas ainda não estão presentes nesse segmento ou, pelo menos, ainda não estão aparecendo entre os primeiros itens encontrados na busca feita na aba correspondente ao marketplace. Encontrei várias lojas menores e até mesmo com poucas vendas anunciando móveis para salas de estar, em sua grande maioria, com destaque também para alguns produtos para quarto, mas não notei a presença ainda de um mobiliário de porte maior, como guarda-roupas. Ao acessar o perfil de algumas dessas lojas, percebi que elas estão criando conteúdo em vídeo mostrando, principalmente, as características desses móveis, como tamanho e funcionalidades. Também aproveitei para assistir uma live de um dos sellers com mais vendas na plataforma, tratava-se de uma apresentação produto a produto, com dicas sobre a montagem, apresentação de diferenciais e muita interação com quem estava assistindo e comentando, além de descontos (bem expressivos) para quem comprava naquele momento. Mesmo feita de uma forma simples, a live pareceu dar resultado, já que, apesar de um número de espectadores não muito alto, as pessoas que estavam assistindo comentavam que estavam comprando ou que já haviam comprado os móveis da marca. seller ainda precisa ter uma gestão de operação eficiente para acompanhar vendas, ajustar preços e garantir que a experiência seja positiva”. acrescenta. Sobre a questão logística, sempre é bom lembrar, segundo Claudio, que quando falamos de móveis, muitas vezes o seller precisa ter parceiros especializados em transporte de itens volumosos. “É diferente da entrega de um pacote pequeno. A boa notícia é que a plataforma permite configurar diferentes métodos de envio”, observa. VAREJO
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26 moveisdevalor.com.br Gigante do varejo muda de dono e encerra ciclo de 70 anos No mês de agosto, o mercado do varejo foi surpreendido com a notícia da venda da Casas Bahia. A gestora de fundos Mapa Capital, por meio da subsidiária Domus VII Participações, assumiu 85,5% da empresa após a conversão de dívidas em ações. A operação reduziu o endividamento da varejista e marcou o início de um novo ciclo sob o comando da Mapa Capital, enquanto a família fundadora se mantém entre os principais acionistas. DESAFIOS E RESULTADOS RECENTES Dentro da estratégia, a varejista fechou 21 lojas em abril de 2025, após abrir uma nova unidade no primeiro trimestre, conforme informou o diretor financeiro, Elcio Ito, à Reuters. Dados divulgados no relatório da companhia mostram que o Ebitda ajustado da Casas Bahia subiu 47,3% no trimestre, alcançando R$ 570 milhões, com margem de 8,2%. Apesar do avanço, o resultado financeiro foi negativo em R$ 922 milhões, reflexo das despesas com juros elevados e efeitos não recorrentes. Segundo a assessoria do Grupo Casas Bahia, os desafios recentes, como os efeitos da pandemia e o aumento da concorrência, “trouxeram aprendizados importantes. Hoje, a companhia está mais preparada para enfrentar volatilidades macroeconômicas, mudanças no comportamento do consumidor e a pressão por inovação tecnológica”. LEGADO DA VAREJISTA A história da Casas Bahia começa com Samuel Klein, comerciante polonês que fugiu do Holocausto e chegou ao Brasil em São Caetano do Sul (SP). No início, vendia roupas de cama e banho em uma charrete para migrantes VAREJO DESDE 2023, A CASAS BAHIA ATRAVESSA UM PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO OPERACIONAL E FINANCEIRA, MOTIVADO PELO IMPACTO DA ALTA DOS JUROS APÓS A PANDEMIA A SUBSIDIÁRIA DA MAPA CAPITAL ADQUIRIU 85% DAS AÇÕES DA VAREJISTA, DEIXANDO A FAMÍLIA FUNDADORA DA MARCA COMO PRINCIPAIS ACIONISTAS DA EMPRESA Crédito: Germano Lüders Por João Caetano Guimarães, jornalista
27 moveisdevalor.com.br nordestinos – principalmente baianos, origem que inspirou o nome da rede. Em 1957, abriu a primeira loja, já com foco na classe C e na oferta de crédito facilitado via carnê, antecipando uma tendência que moldaria o consumo popular no Brasil. Hoje, após quase 70 anos, a companhia soma mais de 900 lojas espalhadas pelo país e se consolidou até na cultura pop, citada na música "Chopis Centis" da banda Mamonas Assassinas. NOVO CICLO FINANCEIRO E ESTRATÉGICO O novo plano da Mapa Capital inclui a conversão de R$ 1,4 bilhão em dívidas em ações ordinárias. Além disso, a gestora adquiriu os débitos com Bradesco e Banco do Brasil, preservando linhas de crédito e reforçando a base financeira da varejista. Entre as diretrizes da nova gestão estão: maior integração físico-digital; expansão do marketplace; seletividade no crédito; simplificação da estrutura de negócios. Essas medidas já refletem no mercado, tanto que as ações da Casas Bahia chegaram a valorizar 26%, sinalizando confiança dos investidores. A assessoria do Grupo Casa Bahia também destaca que a atuação no setor de móveis e eletrodomésticos volta para o centro do foco da empresa. “Nesse contexto, a decisão de priorizar novamente móveis e eletrodomésticos, categorias core da marca, está alinhada ao reposicionamento estratégico e permanece válida mesmo com a mudança de controle”, detalha a nota. O objetivo é valorizar o que “sempre esteve no DNA da Casas Bahia”, ao mesmo tempo em que amplia a oferta digital e fortalece o ecossistema “omnicanal”. Segundo a assessoria, a Bartira, principal fornecedora de móveis do Grupo, reforça a verticalização e a vantagem competitiva da Casas Bahia nesse segmento. Há, inclusive, espaço para ampliar investimentos em produtos e processos, fortalecendo a relevância da Bartira como parceira fundamental no novo ciclo da companhia. NOVO COMANDO Além da parcela de participação da família Klein, duas figuras estarão no comando da nova era da rede, o então presidente do Grupo Casas Bahia, Renato Franklin, e o CEO da Mapa Capital, FernanEmpresa brasileira especializada em soluções de capital, focada em reestruturação de dívidas, dona de 85% da Casas Bahia Samuel Klein, fundador do Grupo Casas Bahia Michel Klein, acionista do Grupo Casas Bahia, dono de 3,8% do capital da empresa Bartira é a principal fornecedora de móveis do Grupo Casas Bahia do Besa. O acionista Michel Klein, filho de Samuel e dono de 3,8% do capital, tem intenção de voltar ao conselho da empresa em 2026 e busca apoio de outros investidores. O HISTÓRICO DA REDE Em 2010, as Casas Bahia se fundiram com a rede Ponto Frio para criar o grupo chamado Via Varejo, em uma transação envolvendo o Grupo Pão de Açúcar (GPA); o Grupo Pão de Açúcar, que era acionista majoritário da Via Varejo, vendeu sua participação em 2019. O empresário Michael Klein, filho do fundador da Casas Bahia, Michael Klein, reassumiu o controle da companhia, tornando-se o maior acionista; em 2023, a empresa, que operava sob o nome Via, foi renomeada para Grupo Casas Bahia. Atualmente, o Grupo Casas Bahia também controla Ponto Frio, Extra, BanQi, Bartira e CB Full.
28 moveisdevalor.com.br Embalagens irão pesar mais no custo final da indústria moveleira Comprar móveis online pode parecer natural para o consumidor, mas por trás de um simples clique de “comprar” há uma complexa engenharia de embalagens que define custos, garante a integridade do produto, protege trabalhadores, possui parâmetros de sustentabilidade e pode até determinar se a comercialização será aceita por um marketplace. Antes vista como um mero detalhe, as embalagens têm se tornado, gradativamente, um fator crucial. Ao mesmo tempo que viraram protagonistas, se tornaram uma dor de cabeça para quem produz móveis. Frequentes solicitações de alterações nas medidas, peso e volumes encaminhadas por grandes varejistas e plataformas de e-commerce estão levando o setor a se adaptar em um ritmo maior e mutante em um círculo no qual não há regras estáveis e, muito menos unificação de padrões. Ante essa diversidade de referências, o ponto crítico da indústria moveleira será o aumento de custos. Cristiane Fernandes, gerente de marketing e P&D da Santos Andirá, comenta que varejistas que operam com grandes volumes, como Casas Bahia e Magazine Luiza, já impunham limites de peso e proteções adicionais para lojas físicas. “Quando atendemos os pedidos desses ‘sellers’, precisamos respeitar o que eles demandam de peso bruto final, incluindo na embalagem o móvel em si, o plástico, o papelão e tudo mais,” explica Cristiane. E-COMMERCE EXIGÊNCIAS DE E-COMMERCE, MARKETPLACES E ATÉ DE REDES DE VAREJO EM RELAÇÃO A PESO, VOLUMES E DIMENSÕES ESTÃO SE TORNANDO CADA VEZ MAIS FREQUENTES COMO NÃO HÁ PADRONIZAÇÃO, A INDÚSTRIA CORRE PARA SE ADAPTAR, MAS COBRA REGRAS MAIS CLARAS PARA NÃO ARCAR SOZINHA COM O PESO DESSAS MUDANÇAS ENQUANTO ISSO AS INDÚSTRIAS CONTABILIZAM O CUSTO FINAL DOS MÓVEIS COM AS NOVAS EMBALAGENS E, MAIS UMA VEZ, PODEM ARCAR COM O AUMENTO PREVISTO Por Guilherme Arruda, jornalista convidado
29 moveisdevalor.com.br "Por exemplo, um produto vendido no Magazine Luiza exige 42 quilos e dá cinco caixas. Esse mesmo produto vendido na Casa da Bahia, exige 32 quilos e seis caixas", aponta. A complexidade aumenta no e-commerce. “A MadeiraMadeira, por exemplo, solicitou recentemente que as caixas de móveis tivessem limites de peso. Resultado: um mesmo produto que normalmente teria três volumes pode precisar de quatro ou cinco para atender a essas exigências”, relata Cristiane. MADEIRAMADEIRA JUSTIFICA A MadeiraMadeira confirma, por meio de sua assessoria de imprensa, que “vem promovendo melhorias nas embalagens de parte de seus produtos, com destaque para os itens da marca CabeCasa, por meio da substituição do papelão simples pelo duplo”. A iniciativa, acrescenta, tem como objetivo aprimorar a experiência do cliente, oferecendo maior proteção durante o transporte, redução de avarias e a entrega dos produtos em perfeito estado. De acordo com a nota, o foco está em toda a experiência e jornada do cliente com a marca, garantindo que cada ação seja pensada para gerar mais confiança, satisfação e valor em cada interação. “A adoção está sendo realizada de forma gradual, com um cronograma estruturado para evitar desperdícios e em total alinhamento com os critérios de impacto ambiental definidos pela indústria de embalagens, reforçando o compromisso da MadeiraMadeira com a qualidade, a eficiência logística e a responsabilidade ambiental. A implementação ocorre exclusivamente entre fornecedores com contratos ativos, sem custos adicionais, já que o investimento necessário está previsto nos contratos vigentes”. UNIDOS SOMOS MAIS FORTES Cristiane confirma que as mudanças começaram pela MadeiraMadeira, mas acredita que irá se estender para outras plataformas de e-commerce. “Isso obriga as indústrias a criarem múltiplas versões de embalagem para o mesmo produto, gerando custos adicionais. É justamente essa ausência de regulamentação que impacta diretamente nos custos”, reforça a executiva da Santos Andirá. Diretamente, a empresa não trabalha com o Mercado Livre “e, pelo que se sabe, não fazem exigências”, complementa. Enquanto a padronização no Brasil ainda é uma aspiração, o tema já é uma prioridade em outros mercados, como nos Estados Unidos e na Europa. Nos EUA, transportadoras como UPS e FedEx impõem limites rigorosos: caixas acima de 68 quilos são consideradas carga especial, o que eleva a tarifa. Além disso, a regra do “peso dimensional” faz com que pacotes grandes, mesmo que leves, custem como se fossem pesados, incentivando a otimização do espaço. Essa realidade impulsionou o formato flat-pack, sistema no qual os móveis são desmontados e embalados de forma compacta e retangular, dominando o e-commerce do setor. A segurança dos trabalhadores também é um fator decisivo. Nos EUA, caixas com mais de 23 quilos exigem um aviso de "Team Lift" (levantamento em dupla). Na Europa, a legislação é ainda mais rigorosa, com normas da União Europeia que estabelecem que cargas manuais acima de 25 quilos devem ser evitadas. Isso obriga os fabricantes europeus a fracionarem um único móvel em várias caixas menores, mesmo que isso aumente o uso de materiais e o custo logístico. A sustentabilidade também está no centro do debate global. Gigantes do setor exigem embalagens de papelão reciclável e reduziram o uso de plástico. Estados como a Califórnia e o Oregon implementaram leis que obrigam os fabricantes a financiarem sistemas de reciclagem e prestar contas sobre os materiais utilizados. A Amazon, por sua vez, criou manuais com testes de resistência para as embalagens, com o objetivo de reduzir as devoluções e os prejuízos. Especialistas defendem a adoção de uma "regra de bolso global" que padronize as caixas entre 23 e 25 quilos, com dimensões otimizadas para pallets e empilhamento. "No fim, menos improviso e mais padronização significam economia para a indústria, segurança para os trabalhadores e preços mais justos para o consumidor," resume o documento. COMO SÃO AS EMBALAGENS NOS EUA E EUROPA
30 moveisdevalor.com.br Na Marvi Embalagens, que produz caixas de papelão ondulado, o movimento de mudanças para o e-commerce tem sido puxado, casualmente, pelo Mercado Livre. Rafael Gnoatto, diretor da empresa, conta que alguns de seus clientes já pedem caixas redimensionadas e menores para atender às exigências da plataforma, que prefere produtos desmontados em packs, para serem montados pelo próprio consumidor. “Eu acho que quem está liderando toda essa mudança, por enquanto, é o Mercado Livre”, está convencido. De modo geral, não há normatização, adianta Cristiane. Que lamenta, mas também oferece solução: por que não se organizar e encarar esse fato de forma conjunta? Afinal, mudanças também vem acontecendo nas lojas físicas. “Recentemente, a Lojas Cem solicitou mudanças”, informa. Na Casas Bahia, além do peso, a preocupação é com a ergonomia do trabalhador e justifica suas regras como uma forma de prevenção trabalhista. "É um cuidado que eles têm em relação ao peso da caixa, por conta de ergonomia e tudo mais," relata Cristiane, propondo que seria benéfico que "eles oficializassem isso," incentivando uma padronização no mercado. Qualquer mudança nas embalagens, embora válidas em prol de melhorias na logística e redução de peso e avarias, é um processo que implica em um custo maior para os moveleiros. Basilio Vivan, diretor da Genialflex, de Bento Gonçalves (RS), observa que essas novas demandas não são fáceis de serem repassadas, especialmente em um ambiente em que o mercado está retraído e com altos índices de inadimplência. "As margens (do setor) caíram drasticamente," revela, enfatizando que a indústria está em uma posição difícil. VENDA DIRETA Basilio nota que alguns varejistas, em especial os que vendem online, têm transferido a maior parte da responsabilidade para o fabricante, incluindo custos com avarias, devoluções, estoque e prazos de pagamento. "Bom, se eu tenho que ter estoque, financiar o cliente, me preocupar com a embalagem, com a devolução... então, prefiro eu mesmo vender", propõe, acrescentando que esse movimento, que permite ao fabricante de móveis ter maior controle sobre o processo, vem crescendo. Mais caixas, mais papelão, mais custos para as indústrias Basilio Vivan, diretor da Genialflex, de Bento Gonçalves Cristiane Fernandes, gerente de marketing e P&D da Santos Andirá E-COMMERCE
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32 moveisdevalor.com.br O empresário conhece fabricantes que têm optado pela venda direta ao consumidor. “Se você é dono de uma fábrica, o que falta para vender direto? pergunta. Ele mesmo responde: “Basta ter um bom site e um bom marketing para fazer a festa. A logística aqui na região é muito boa, melhorou nos últimos anos”, assegura, se referindo a serra gaúcha. “Aqui no nosso polo são poucas as fábricas que ainda não entraram na venda direta”, conta. Basilio concorda que a busca pela padronização de embalagens parece ser o caminho natural para resolver o problema, embora antecipe que será um processo demorado. Lembra o projeto de um antigo diretor da MadeiraMadeira, em parceria com o Senai e com o Inmetro, que visava criar parâmetros de certificação para embalagens, sinal de que a indústria e os grandes players estão cientes do problema. PRINCIPAIS ITENS DAS EMBALAGENS PARA MÓVEIS 1. Papelão: componente mais comum na embalagem de móveis. É leve, versátil e oferece boa resistência a impactos, composto por uma ou mais folhas de papel planas (capas) e uma folha ondulada (miolo) que, juntas, criam estrutura de amortecimento. A espessura e o número de camadas podem variar para se adequar ao peso e ao tipo de móvel, existindo caixas de onda simples, dupla ou tripla. 2. Plástico-bolha: material de proteção usado para envolver partes delicadas dos móveis. É uma folha de polietileno com pequenas bolhas de ar prensadas. Sua principal função é absorver choques e vibrações, protegendo superfícies frágeis, como vidros, espelhos e acabamentos brilhantes, contra arranhões e amassados. 3. Espuma de Polietileno (PE) ou de Poliestireno (Isopor): usadas como calços e cantoneiras para fixar o móvel dentro da caixa. A espuma de polietileno é mais flexível e resistente a rasgos, ideal para ser moldada e preencher espaços vazios. Já o poliestireno (isopor) é mais rígido e leve, muito usado para cantoneiras e calços que evitam o movimento do móvel, protegendo as quinas e bordas de impactos. Ambos oferecem excelente capacidade de absorção de choque. 4. Fita adesiva: indispensável para selar e reforçar a caixa de papelão. As fitas adesivas usadas em embalagens de móveis são geralmente de polipropileno (PP) ou PVC, e sua principal característica é a alta adesão e resistência à ruptura. Elas garantem que a caixa permaneça fechada durante todo o transporte, protegendo o conteúdo. 5. Filme plástico (Stretch): é usado para envolver a caixa ou até mesmo o móvel inteiro. Feito de polietileno, esse filme é altamente elástico e aderente. Ele protege o móvel ou a caixa de poeira e umidade, além de unir e compactar a embalagem, tornando-a mais segura e estável para o transporte em pallets. 6. Cantoneiras de papelão prensado: são reforços usados nas quinas da caixa. Feitas de várias camadas de papelão prensado, essas cantoneiras formam uma estrutura rígida em "L" ou em "U". Elas aumentam a resistência da embalagem e evitam que as quinas do móvel sejam danificadas em caso de quedas ou impactos laterais. Vitor Guidini, da Cimol Móveis e presidente do Sindimol, do Espírito Santo, reconhece que há alguns movimentos. “Principalmente, players de e-commerce estão solicitando (mudanças) para marcas próprias. Na verdade, esse movimento de busca de melhoria de embalagem, ergonomia e outras mudanças, sempre existiu. E nós, como industriais, buscamos sempre melhorar as embalagens para evitar avaria, devoluções de produto e tudo mais. É um trabalho direto que acontece”, diz. ENTREVISTAS A Móveis de Valor encaminhou pedido de entrevista a players que operam com móveis para comentar o tema. O Mercado Livre respondeu, lamentando que "havia conflito de agenda para atender o pedido". Até o fechamento dessa edição, Magazine Luiza e Casas Bahia, não haviam retornado o contato. E-COMMERCE
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