MV Norte & Nordeste 27

32 que foi conselheiro durante o processo de implementação do Pix. Blasques aproveita para explicar os motivos dessa diferença enorme entre o uso do Pix por pessoas físicas e pes- soas jurídicas. “O primeiro objetivo do Pix foi democratizar a transferência de dinheiro e a diminuição da circulação de moedas físicas. Ele faz com que as pessoas não precisem ficar sacando dinheiro toda hora e se habituem com a moeda digital. Obviamente, as pessoas físicas aderiram ao sistema por não se- rem cobradas tarifas como as do TED, mas, por outro lado, quem está pagando essa conta são os CNPJs”. O especialista conta que os bancos co- bram de R$ 0,99 a R$ 10,00 para cada transferência feita por PJ utilizando o Pix. Outro ponto negativo é a concilia- ção que ainda não existe, diferente do que é feito por empresas de cartões, por exemplo. “Esses dois fatores acabam in- viabilizando o uso do Pix no varejo, por simplesmente não valer a pena quando se analisa o valor da compra e a taxa que precisará ser paga, que muitas vezes é bemmaior que das operadoras de cartão. E quando falo sobre conciliação, estou me referindo ao fato de o cliente pagar e o dinheiro cair direto na conta corrente do estabelecimento sem a referência do item que foi comprado. Isso faz com que o empresário não tenha total controle sobre os valores que estão entrando”. Arnaldo Blasques também comenta so- bre as novidades que devem aparecer no segundo semestre. “Um ponto falho do Pix quando se trata de seu uso no varejo é o fato de o comprador ter de acessar o seu aplicativo do banco para poder fazer a transferência, o que faz comque a pessoa passemais tempo no caixa, sendo péssimo em estabelecimentos como supermer- cados, por exemplo. A solução pode vir com o lançamento de um app semelhante ao Google Pay e Apple Pay, que agiliza o processo de pagamento e deve estar dis- ponível em breve”, avalia. O especialista dá sua opinião sobre quan- do é vantagem para a pessoa jurídica usar o Pix, por enquanto. “Quando o varejo vende bens de valor mais elevado, pode sim valer a pena optar por esse meio de pagamento, mesmo com todos os problemas que apontei anteriormente, pois a entrada instantânea do dinheiro e a taxa baixa em relação ao valor total são benefícios. Assim como o uso para transferências entre dois CNPJs, que geralmente envolvem grandes quantias, sendo mais vantajoso que as alternativas de transferência oferecidas pelos bancos”. Blasques prossegue dizendo que “depois que as novidades pensadas para o varejo chegarem, provavelmente em setembro, o comércio contará com o Pix agendado ou chamado também de parcelado, que cumprirá a função de um boleto ou de um cheque pré-datado. O único empeci- lho pode ser se não houver um esquema para poder protestar Pix, mas acredito que empresas vão criar cartas de crédito para assegurar os vendedores”. Para finalizar, o especialista deixa a sua sugestão do que deverá ser uma boa opção para os varejistas. “Eu acredito muito nas parcerias entre varejo e bancos digitais. Os bancos tradicionais cobram tarifas muito altas dos empresários e costumam brigar intensamente pela abertura de contas por pessoas físicas. Os bancos digitais têm a oportunidade de oferecer serviços mais baratos para os varejistas, estimulando a adesão do pequeno comércio, que ainda faz muita TED e tem gastos enormes com taxas bancárias. Isso é uma boa forma de tirar um pouco dessa carga e criar com- petição no mercado”. Por Natalia Concentino, jornalista ARNALDO BLASQUES, SÓCIO DA OMNIROOTS - UNIDADE DA GOUVÊA ECOSYSTEM

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