35 com o objetivo de levar tecnologias digitais para escolas públicas. “A expansão desses projetos determinará como os Betas menos favorecidos acessarão oportunidades”, afirma o cientista, enfatizando que atualmente 39% dos domicílios rurais do país não têm acesso à internet de qualidade, fato que cria um abismo social que os Betas precisarão superar. Outra questão que afetará diretamente a forma de pensar e de agir dos Beta será a consciência climática que eles terão desde o berço. “Nascendo em um país que enfrenta extremos climáticos (secas no Nordeste e enchentes no Sudeste), essa nova geração terá uma mentalidade regenerativa, movida não só pela sobrevivência, mas também por uma visão de futuro mais equitativa”, observa Escrivano. “No Brasil, startups como a Pipe Social já financiam projetos de impacto socioambiental. A geração Beta ampliará essas iniciativas para criar economias locais integradas ao ecossistema global”, continua o cientista. Todo esse cenário também trará grandes transformações sociais no mundo onde os Betas irão crescer. Nesse aspecto, a cidadania digital entrará em jogo fazendo com que as redes sociais deem cada vez mais voz as pessoas marginalizadas. “Essa geração não aceitará passivamente o controle corporativo sobre suas informações e redesenhará o uso dessas plataformas para sua própria autonomia”, aposta Escrivano. “Dessa forma, a luta por regulamentações de redes como o Instagram e o TikTok será liderada por jovens ativistas, especialmente em questões como discurso de ódio e algoritmos discriminatórios”, acredita. Outro fator que será utilizado pelos Betas como ferramenta política será a própria cultura brasileira, que desde os primórdios é composta por uma grande diversidade. “O Brasil sempre foi um laboratório de fusões culturais, e os Betas usarão isso para criar algo revolucionário. De um lado, veremos a preservação digital de tradições indígenas e quilombolas, como a língua e os rituais. Do outro, o uso de tecnologias imersivas para transformar essas tradições em novos modelos de negócios”, observa o cientista. “Um exemplo prático disso seria a criação de um NFT quilombola que representasse histórias ancestrais — não como produto consumível, mas como ativo para financiar educação local”, complementa Escrivano. HÁBITOS DE CONSUMO DA GERAÇÃO BETA Já quando o assunto é hábito de consumo, a nova geração promete algumas contradições nesse aspecto. Isso porque, apesar de possuírem a sustentabilidade como uma de suas principais identidades, nem sempre será assim na prática. “A geração Beta será uma das mais conscientes ambientalmente, mas viverá no paradoxo de desejar sustentabilidade acessível em um Brasil onde grande parte da população ainda depende de plásticos descartáveis e fast fashion”, explica o cientista. Segundo um relatório de 2024 do Instituto Akatu, 68% dos jovens brasileiros consideram a sustentabilidade importante, mas apenas 22% afirmam conseguir viver de forma sustentáPaulo Escrivano, cientista do consumo e previsor de tendências vel devido ao custo. “Esses números prometem continuar desequilibrados com a chegada dos Betas, especialmente devido à desigualdade social sem precedentes que eles irão enfrentar”, destaca Escrivano. Outro ponto que irá moldar o consumo da nova geração será a expansão de plataformas como Pix e blockchain que fará com que eles valorizem transações rápidas, transparentes e comunitárias. “Produtos locais, como roupas feitas por costureiras independentes ou alimentos produzidos em hortas urbanas, também ganharão ainda mais força no consumo Beta”, comenta o cientista, acrescentando que essa tendência já está começando a aparecer e a prova disso é que a economia informal brasileira atualmente movimenta 17% do PIB nacional.
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