MV Norte & Nordeste

31 Tiago Portz, coordenador de Serviços de Inovação e Tecnologia do Senai-RS Renato Bernardi, cofundador da Bernardi Consulting totais. A lista inclui ainda maquinário subutilizado e, principalmente, alta rotatividade de mão de obra, apontada por empresários como um dos maiores desafios atuais. A outra metade se distribui entre esperas e processamento inadequado. “Inventário significa excesso de estoque, seja de produtos acabados, intermediários, obsoletos ou que já saíram de linha”, explica um técnico do setor. Nas micro e pequenas fábricas, que representam a maior parte do segmento, as perdas costumam variar entre 25% e 40% da capacidade produtiva total. Isso engloba horas paradas, falhas de sincronização e, claro, retrabalho. Para Tiago Portz, coordenador de Serviços de Inovação e Tecnologia do Senai-RS, há caminhos claros para mudar esse cenário. Ele cita dois casos reais em que o lead time (o tempo para transformar matéria-prima em produto) caiu 39% e 29%. “O impacto é direto no fluxo de caixa, pois troca um processo de 30 dias por um de 18. São 12 dias livres”, afirma. “Isso é uma enormidade”, reforça. O ganho aparece em vários pontos: vender mais rápido, faturar antes e liberar espaço produtivo. Para Portz, o segredo está na relação entre processo e método. Ele resume em dois passos: 1. Mapear o fluxo de valor — uma imersão para identificar bloqueios e desperdícios. 2. Gerenciamento diário — reunir as equipes no início de cada turno, revisar o dia anterior e planejar o atual. “Equipes alinhadas resolvem problemas antes que eles cresçam, além de permitir decisões baseadas em fatos e não em percepções”, destaca. RETRABALHO: QUANDO O PRODUTO VOLTA PARA A FÁBRICA ESG, economia circular e produção limpa viraram palavras de ordem, mas em muitas empresas elas ainda não descem para o nível operacional. De que adianta um discurso sustentável se, no chão de fábrica, chapas de MDF deixam sobras superiores a 10%, restos de espuma vão para o lixo e o retrabalho toma horas inteiras de produção? Além de encarecer o produto, cada resíduo representa energia, tempo e matéria-prima desperdiçados, justamente o oposto das boas práticas da economia circular. Retrabalho é, antes de tudo, consequência de uma “não qualidade”. Cada móvel nasce da ideia de um designer ou do pedido de um cliente, e exige um processo capaz de entender e entregar aquilo que foi pensado. Padronizar etapas é essencial, porque cada móvel devolvido e cada cliente frustrado refletem o que não foi cuidado. “A pior encrenca de um fabricante é quando o cliente descobre que o móvel está errado. Não tem solução, o cliente perde a confiança”, diz Renato Bernardi, que acumula cinco décadas de experiência no setor. Quando chamado por fabricantes, ele sempre faz a mesma pergunta: quais são suas maiores dores? A resposta, quase invariável é assistência técnica. “É quando o consumidor descobre que adquiriu um móvel com problema”, resume. E-COMMERCE: A DEVOLUÇÃO SILENCIOSA Quando o erro acontece antes do envio, os custos se multiplicam: tempo gasto, matéria-prima perdida, energia usada, mão de obra, movimentação, armazenagem. Depois, é preciso refazer a peça — a um custo dobrado — e ainda abrir mão da produção de uma terceira, que seria a peça boa. “Quem compra móvel pelo e-commerce conhece muito pouco o pro-

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